Arquivo de Janeiro, 2011

Fracasso

Poster do filme


Sinopse: Auxiliadora (Mariah Teixeira) é uma jovem de 16 anos explorada e mantida dentro de casa pelo avô Heitor (Fernando Teixeira) em um pequeno povoado na Zona da Mata pernambucana. Durante algumas noites, o avô leva a garota ao posto de gasolina para expô-la nua a troco de alguns reais. Na cidade, Everardo (Matheus Nachtergaele) e Cícero (Caio Blat) promovem orgias violentas na casa de Dona Margarida (Conceição Camarotti), onde moram algumas prostitutas.

“Baixio das Bestas” é um filme que funciona como uma armadilha. Tudo serve pra você sair pensando que aquele é o pior filme que você já viu. Cenas “fortes”, muito palavrão, nudez. Personagens não têm nenhuma profundidade, planos, e sustentam sua máscara de maldade como as fantasias do maracatu. Eu pensei “meu deus que filme clichê!”. Como sempre estava enganado. O filme tem tudo isso, mas só que é tudo de propósito.
Eu acho que realmente existem pessoas como o avô de Auxiliadora, falsos moralistas, e garotos de classe média que cometem aqueles atos de brutalidade com mulheres.
Mas é importante observar como são construídos os personagens e seu mundo.
É tudo um experimento, um experimento já feito para fracassar.
Tudo no filme foi feito para dar errado, são personagens tortos, num mundo torto só esperando as coisas virarem ruínas. O diretor sempre filma cenas se repetindo, da mesma forma, mudando apenas pequenos detalhes, e repete tudo de novo. E nada muda.
Ninguém evolui e o canavial continua queimando lá atrás.
É um filme científico, para estudar a decadência das pessoas num ambiente que está apodrecendo. Nós, como o diretor-cientista, estamos apenas observando o processo de decomposição daquele mundo. E tudo queima no final. Até os personagens percebem isso, com algumas declarações metalingüísticas, como quando um dos senhores que participa do maracatu fala para um homem que esta cavando uma cova: “Esse é o cheiro da podridão do mundo”.
Mas é possível fazer um filme como um experimento científico? Isso é “artístico”?
E a resposta mais uma vez vem de um personagem que já compreendeu sua condição de experimento: “É que no cinema você pode fazer o que tu quer”.
Apesar de enganar a gente com a idéia de estar fazendo uma crítica social filmando algo “que realmente acontece”, na verdade o filme crítica de uma forma bem diferente, cria um micro-cosmo que logo será destruído, levemente semelhante a observar a formação de anti-matéria por um acelerador de partículas. E é isso que são os personagens, não existe nenhuma pessoa daquele jeito, tão superficial, em condições normais. Deve se criar todo um aparato para eles existirem. E foi isso que o diretor fez.

Nota 7/10


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