Memórias, fotografias e a Tailândia.

cartaz do filme

Cartaz do filme.


“título original: (Lung Boonmee Raluek Chat)
lançamento: 2010 (Tailândia, Inglaterra)
direção:Apichatpong Weerasethakul
atores:Thanapat Saisaymar, Sakda Kaewbuadee, Jenjira Pongpas.
duração: 114 min
gênero: Drama
status: Em cartaz

Sinopse: sofrendo de insuficiência renal, Tio Boonmee (Thanapat Saisaymar) resolveu passar os últimos dias de sua vida recolhido em uma casa perto da floresta, ao lado de entes queridos. Durante um jantar com a família, o espírito de sua esposa falecida aparece para ajudá-lo em sua jornada final. A eles se junta Boonsong, filho de Boonmee, que retorna após muito tempo metamorfoseado em outra forma de existência. Juntos, eles percorrerão o interior de uma caverna misteriosa, onde Boonmee nasceu em sua primeira vida.”
Fonte:http://www.adorocinema.com/filmes/tio-boonmee-que-pode-recordar-suas-vidas-passadas/

Antes de começar esse resenha, tenho que mostrar algumas igualdades que vão facilitar a minha escrita e a sua leitura:
“Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” = “Tio Boonmee”.
“Apichatpong Weerasethakul” = “Joe”.
Nenhum animal ou regra matemática foi ferido nessa igualdade. E o próprio diretor autorizou as pessoas do ocidente a chama-lo de “Joe”. Senão eu ia começar a chamar ele de “Chacha”.

Joe é o Guimarães Rosa da Tailândia. Lógico que essa afirmação pode estar completamente errada, mas a simpatia que eu tenho pelos dois é a mesma, e talvez seja um mecanismo da minha mente tentar comparar dois artistas que eu gosto tanto.
Não conheço quase nada da cultura tailandesa, e sou não sou um mestre na obra de Guimarães Rosa, mas existem sim semelhanças entre os dois. Desde coisas pequenas, como o boi, tão presente na obra do escritor mineiro, aparece na primeira cena do filme do realizador tailandês. Uma cena em que o boi foge da arvore onde está amarrado e foge para floresta. Outra igualdade entre os dois é o “realismo fantástico”, uma magia que aparece como se fosse a coisa mais normal do mundo. Além da criação de uma linguagem totalmente nova dentro de própria linguagem. Rosa na escrita, Joe no cinema.
Para mim os dois são planos paralelos com infinitos pontos de ligação, mas tem um ponto em principal que eu quero focar (e depois aprofundar mais ainda): como os dois misturam complexidade e simplicidade.
Mas isso não quer dizer que você pode assistir à “Tio Boonmee” comendo uma fatia de “quejin di minas” e tomando café quente. O filme se afasta de todos os padrões cinematográficos que estamos (ou eu estou) acostumados a ver.
E é agora que realmente vamos começar a crítica.

Em uma das cenas mais comentadas desse filme, o fantasma da esposa falecida de Boonmee e seu filho perdido (agora em forma de um macaco mágico) aparecem na mesa de jantar. É uma cena muito importante para todo o filme. Nessa cena o filho-macaco conta porque estava naquela forma. E o motivo principal é a fotografia.
Uma fotografia que ele tirou e viu na foto após ser revelada, mostra o “macaco fantasma”, a criatura que ele próprio se tornou depois. Uma obsessão parecida com a do personagem de “Blow Up”.
o que você está vendo?
A fotografia no filme representa duas coisas: representação da memória das pessoas e também uma representação de como funciona o tempo dentro do filme. Quando Tio Boonmee está para morrer ele recorda de suas vidas passadas enquanto várias fotos são mostradas na tela. Quando o monge e a genra de Boomne deixam o quarto do hotel e vêem a si mesmos sentados assistindo a TV, eles vêem o recorte de outra ramificação tempo. Como uma foto.
“Tio Boonmee” é um filme sobre o cinema e são várias as referencias a outros filmes, principalmente ao filme “La Jetée” de Chris Marker, em que a fotografia também é um símbolo das lembranças que temos.
Mas não é só isso. O filme tem diversos de outros temas ocultos como o vulto na foto e talvez todos nós vamos ficar paranóicos em tentar achá-los, e também nos vamos nos tornar macacos fantasmas.
E é o que eu mais gostei no filme, a magia se infiltrando levemente na realidade, a forma como o tempo é tratado de uma maneira totalmente diferente. As coisas não acontecem de forma linear, mas como se tudo pudesse ser observado de fora, ou como se todos os eventos estivessem num espaço tridimensional, quem sabe um álbum de fotografias.
Tem muitos outros detalhes do filme que eu não compreendi/não cabem nessa “crítica”.
“Tio Boonmee” é um filme para ver muitas e muitas vezes, discutir com os amigos no bar. E teve gente falando que era um filme chato…

Nota 9/10.

Fracasso

Poster do filme


Sinopse: Auxiliadora (Mariah Teixeira) é uma jovem de 16 anos explorada e mantida dentro de casa pelo avô Heitor (Fernando Teixeira) em um pequeno povoado na Zona da Mata pernambucana. Durante algumas noites, o avô leva a garota ao posto de gasolina para expô-la nua a troco de alguns reais. Na cidade, Everardo (Matheus Nachtergaele) e Cícero (Caio Blat) promovem orgias violentas na casa de Dona Margarida (Conceição Camarotti), onde moram algumas prostitutas.

“Baixio das Bestas” é um filme que funciona como uma armadilha. Tudo serve pra você sair pensando que aquele é o pior filme que você já viu. Cenas “fortes”, muito palavrão, nudez. Personagens não têm nenhuma profundidade, planos, e sustentam sua máscara de maldade como as fantasias do maracatu. Eu pensei “meu deus que filme clichê!”. Como sempre estava enganado. O filme tem tudo isso, mas só que é tudo de propósito.
Eu acho que realmente existem pessoas como o avô de Auxiliadora, falsos moralistas, e garotos de classe média que cometem aqueles atos de brutalidade com mulheres.
Mas é importante observar como são construídos os personagens e seu mundo.
É tudo um experimento, um experimento já feito para fracassar.
Tudo no filme foi feito para dar errado, são personagens tortos, num mundo torto só esperando as coisas virarem ruínas. O diretor sempre filma cenas se repetindo, da mesma forma, mudando apenas pequenos detalhes, e repete tudo de novo. E nada muda.
Ninguém evolui e o canavial continua queimando lá atrás.
É um filme científico, para estudar a decadência das pessoas num ambiente que está apodrecendo. Nós, como o diretor-cientista, estamos apenas observando o processo de decomposição daquele mundo. E tudo queima no final. Até os personagens percebem isso, com algumas declarações metalingüísticas, como quando um dos senhores que participa do maracatu fala para um homem que esta cavando uma cova: “Esse é o cheiro da podridão do mundo”.
Mas é possível fazer um filme como um experimento científico? Isso é “artístico”?
E a resposta mais uma vez vem de um personagem que já compreendeu sua condição de experimento: “É que no cinema você pode fazer o que tu quer”.
Apesar de enganar a gente com a idéia de estar fazendo uma crítica social filmando algo “que realmente acontece”, na verdade o filme crítica de uma forma bem diferente, cria um micro-cosmo que logo será destruído, levemente semelhante a observar a formação de anti-matéria por um acelerador de partículas. E é isso que são os personagens, não existe nenhuma pessoa daquele jeito, tão superficial, em condições normais. Deve se criar todo um aparato para eles existirem. E foi isso que o diretor fez.

Nota 7/10

Mickey Eye is watching you!

Todo mundo gosta de bad-guys, principalmente nos quadrinhos. Personagens como Marv (“Sin City”) ou mesmo o Justiceiro, com seus métodos violentos, atitudes casca- grossa e frases de efeito. Mas pelo visto Grant Morrison estava cansado desses personagens…
“Seaguy” conta a história do personagem de mesmo nome da HQ, que vive num mundo utópico, em que não existem mais perigos. Todos vivem teoricamente felizes, sem crimes, assaltantes ou vilões para perturbar a paz. Quase todos os Super-Heróis morreram em combate com o que seria o mau supremo, o Anti-papai. Os que restaram se aposentaram e vivem de memórias do passado.
Nesse ambiente Seaguy vive de jogar xadrez com a morte (uma clara citação ao filme “Sétimo Selo”), e assistir o programa do suspeito Mickey Eye. E para impressionar uma mulher barbada, uma guerreira que busca aventureiros, Seaguy parte em busca de alguma aventura que talvez ainda exista nesse mundo. E ele encontra.
Tijolos com hieróglifos começam a cair da lua, e isso parece a Seaguy e seu parceiro (um peixe voador e fumante de charutos) a oportunidade perfeita para entrar em uma aventura, e conseqüentemente impressionar a mulher barbada. Mas essa suposta queda de pedras lunares arrasta diversos perigos consigo…
E isso é um das melhores coisas desse quadrinho. Morrison encadeia as ações dos personagens e as ações sobre os personagens de um modo totalmente inovador. Muitos falam que algo surrealista. Mas eu discordo. Assim como “Patrulha do Destino”, Morrison quer nos trazer uma espécie de estranheza romântica, mostrando que o mundo não é como a gente imagina e vê, mas ele não mostra isso com uma porrada na sua cara (como é o caso de Morpheus contado para Neo que ele é só uma pilha), mas sim com uma história muito bonita e poética. Além disso, o ritmo da história é muito rápido, as situações acontecem em grande velocidade. Parece até que a história foi “condensada”.
E Seaguy é um personagem a parte no mundo dos quadrinhos. Ele não tem poder nenhum, não conhece muito bem os oficio de ser um super-herói, e é um pouco ingênuo. Mas ao mesmo tempo ele é um romântico, carismático, simpático e muito inteligente.
A amizade dele com Chubby Da Chonna (o peixe voador que eu falei) é outra jóia rara que eu vi nesse quadrinho. Duplas aparecem em HQs e na literatura desde o tempo do guaraná com rolha. Batman e Robin, super-gêmeos (tá essa foi tosca), Sherlock Holmes e Watson, Dom Quixote e Sancho Pança. Mas a que chega mais perto do relacionamento entre os dois é o de Tintin e Milu. Porém nem essa se aproxima tanto. O mergulhador e seu amigo peixe têm realmente uma amizade, um companheirismo, como se fossem amigos de infância, não só uma coisa de parceria, ou mesmo uma relação de dono-pet.
E os temas clássicos de outras obras de Morrison aparecem mais uma vez. Misticismo, grupos de conspirações políticas, domínio global por organizações gananciosas, paranóia.
Tudo colocado de um modo muito interessante e com a ajuda dos desenhos sensacionais de Cameron Stewart. As ilustrações limpas e “inocentes” de Stewart casam perfeitamente com a estética do quadrinho, mais até, é parte importante desse tema da falsa realidade em que vive o Seaguy, e que talvez todos nós vivemos.
“Seaguy” tem apenas 3 edições, mas Morrison já lançou uma continuação (que eu não li). É uma história emocionante e singela, ao mesmo tempo em que cutuca em diversas feridas da sociedade, e tem um dos finais mais amargos que eu vi recentemente (quem viu Easy Rider sabe mais ou menos do que eu falo).
Faça um favor a si mesmo e leia essa grande obra! Nota 10/10.

Uma piada séria.

ATENÇÃO: Essa crítica contem informações inúteis e spoilers.

Os filmes dos irmãos Coen nunca me agradaram o suficiente. Sempre ouvi falar muito bem da dupla e adjetivos como “inovadores”, “criativos” e “importantes” sempre são citados em críticas a qualquer filme dos irmãos. Porém eu não conseguia encontrar nada realmente digno de nota nos filmes. “Onde os fracos não têm vez” (perdoem o trocadilho) é um filme fraco, meio sem graça, com poucas cenas boas. O final, e a cena em que o assassino bizarro e o xerife estão separados por uma porta de hotel e um lapso temporal são cenas realmente excelentes, mas uma música não salva um disco inteiro. “Gosto de Sangue” e “Fargo” são legais, mas nada demais.
Dai eu vi “Um Homem Sério” e tudo que eu pensava sobre os Coen foi invertido, como se elevado a -1.
Mas vamos ao começo. Eu me interessei pelo filme porque eu tinha lido em algum lugar, em alguma parte do tempo, que o filme era sobre um professor de física judeu que passava por diversos problemas pessoais, e recorria ao auxílio espiritual de rabinos. Todos os filmes deles (que eu vi claro) são sobre expor personagens aos limites, e satirizando as atitudes desses mesmos personagens diante dessas situações claustrofóbicas. Então eu já os imaginava satirizando o pensamento racional (no caso a física) e também as atitudes contraditórias do professor de abandonar a física e buscar auxílio na religião.
Se fosse uma prova “sobre qual é o assunto do filme?” e eu respondesse esse parágrafo ai em cima, eu acho que eu tiraria 1 de 10. Talvez menos.
O filme tem tudo isso ai que eu falei, e muitos outros elementos. Seja a família de Larry (o professor), em que sua mulher termina a relação com um dos diálogos mais aterradores e cruéis que eu já vi, seu filho fuma maconha e mistura o rock com a tentativa de aprender as tradições judaicas para seu bar mitzvah, sua filha rouba seu dinheiro e seu irmão é um viciado em jogatina.
Isso sem contar nas cartas misteriosas, que ameaçam seu emprego como professor na universidade, e a tentativa de suborno por um de seus alunos.
Como o Coringa em “A Piada Mortal”, que tortura a mente do comissário Gordon, para provar a Batman, que qualquer um pode enlouquecer em situações extremas, os irmãos- diretores aplicam situações extremas a Larry, para ver se ele resiste. Mas as situações não vêm em seqüência, como se esperaria de um filme mediano. As situações aparecem como sem relação, num surrealismo do mais real possível. Tanto que o professor, mesmo com todo seu conhecimento matemático, não consegue achar lógica no que Deus apronta com ele. Não consegue somar, dividir e equacionar os fatos, as ações e reações que as outras pessoas fazem. Como as falas dos dois rabinos que Larry visita. Uma mais absurda inútil e ridícula que a outra. Ridícula pra Larry, claro. Pois a história que o segundo rabino conta sobre o dentista que encontra a mensagem de Deus num lugar pouco provável é genial! Uma coisa meio Thomas Pynchon em “V”, que tem um personagem que busca a pessoa com a arcada dentária perfeita. A história do dentista nem final tem. O que deixa Larry anda mais atordoado. E o terceiro rabino, que seria a esperança de redenção do professor, nunca atende o coitado.
Além disso, sua mulher quer divórcio para se casar com um sujeito cara-de-pau e cafajeste.
Todos os elementos orbitam sobre Larry, numa dança sem fim, que o confunde cada vez mais, e confunde também nós, expectores. Fiquei imaginando: “como as coisas podem tomar tal rumo, como tudo pode ser tão confuso, como nada tem resposta?”. Larry mesmo me respondeu, na cena em que está explicando física quântica para seus alunos… Não existe certeza. Você nunca vai ter respostas precisas. É como se todas as informações que chegam a você, vem com um ruído impossível de ser anulado. Nunca existira um sentido pleno das coisas. Sua luta sempre falhará. Marcello Rubini em “La Doce Vita” e Josef K em “O Processo” são de certa forma, irmãos de luta de Larry. Tentam achar o sentido de sua situação na realidade, de todos os meios possíveis. Mas enquanto Rubini está em um ambiente de festas, glamour e Josef k. perambula por ambientes apertados e escuros, Larry vive a dualidade de dias ensolarados e quartos de motéis sombrios. A sala de aula de cores frias e a casa de sua vizinha de cores quentes e exageradas.
Grande parte da crítica considerou o filme como uma piada irônica da religião judaica, uma fábula sobre os problemas políticos econômicos recentes ou também uma obra autobiográfica, já que os irmãos são judeus, filhos de professores universitários. Bom, eles tirariam mais ou menos uns 4 de 10 naquela prova que eu inventei…
O filme tem tantos elementos que é muito contabilizá-los, quanto mais relacioná-los.
É provavelmente um dos melhores filmes que já vi nesses últimos anos, e de longe o melhor dos irmãos Coen. Vejam e vejam de novo várias vezes.
É um filme genial. Nota 10.

Obs: Reparem na relação entre a cena da conversa entre o filho de Larry e o rabino e a primeira seqüência do filme.

Esmagamento

É hoje cara! Noites sem dormir, festas mal-curtidas, ouvidos pouco abertos para o que meus amigos falam. Faz tempo que eu não me divirto direito porque esse compromisso perfura a minha nuca. Mas é hoje que isso acaba, o compromisso acaba, o último morre hoje!

Faço o que sempre fiz com todos os outros. Corto meu cabelo bem curto para não atrapalhar quando eu estiver de capacete.  Coloco meu uniforme, que mais parece uma roupa de mergulho, meu velho coturno de guerra. As luvas são uma obra de arte, modéstia parte. Controle de pressão, reconhecimento de materiais, imãs e chaves magnéticas. A faca que irá fazer todo o serviço. É pesada, com um cabo simples, preto, revestido de borracha. Perfeito para minha empunhadura, e escondida em minhas costas. Além, claro, bilhete único de estudante.

De uniforme completo, beijo minha namorada e digo “voltaremos quando eu voltar”, desço do elevador, subo a rua, espero o sinal e entro na estação de metrô. Obviamente todos estranham minha roupa. Mas isso claramente não afeta muito a sanidade deles. Garanto que pensam que faço cosplay ou algo do tipo. Tiro o capacete, só pra não parecer tão estranho.

Na estação de destino penso “Ah eu não imaginava que tudo aqui seria tão atrasado”. Subo pelas escadas rolantes.

Pulo o portão da casa. O primeiro segurança vem correndo. Eu sinto meu pé deslizando dentro do coturno, ou correndo em direção dele. Fico pensando naqueles problemas de Física, dos corpos em colisão. Essa foi totalmente inelástica. Para os dois.

Já na porta, depois de atravessar metros de jardim, toco a campainha só pra fazer piada. Lógico que ele não vai descer para me atender, ele de estar no seu escritório. Espero que pronto para morrer.

Olho pra cara dele e digo “É cara, chegou a hora de cumprir sua pena. Todos os ponteiros já foram mortos e endireitados para o seu devido tempo. Só falta você mesmo… Sinta-se honrado por ter chegado tão longe”. Engraçado que eu nem olho muito pros olhos dele, eu fixo no queixo, que é quadrado e largo, eu lembro que quando vi a foto dele pela primeira vez ele me lembrou o Mr. Bison…

Ai o desgraçado começa a falar, falar muito e no começo eu só seguro a faca, lembrando do sonho que eu tive a noite, que eu tinha esquecido meu Ipod no outro rio, pra onde logo voltaria, não dando muita atenção pra aquele lunático até que “…mpo é o que eu queria e o que eu consegui, agora eu sou perfeito. Acabou pra você Larz, ta vendo isso aqui na minha mão, é  isso mesmo que você está vendo. Agora eu tenho controle absoluto sobre todas as linhas das possibilidades. Você não voltara mais pra casa, não verá mais sua namoradinha, nem ao seu empreguinho de bosta. Você não terá o seu hoje de antes, nem o hoje de hoje. Acabou. Seu rosto em breve estará debaixo da minha bota. Todos os rostos. Tudo é meu agora.”

Ele pausa uns instantes só pra ver minha cara de espanto enquanto ele segura o títere. E ele volta “… ra pense nas coisas assustadoras que você viu em sonho, suas desilusões, um trabalho sem lógica, você com a terá a memória reconstruída e nunca vai saber disso, o amor da sua vida vai ter orgasmos com milhares de zés manés. Saber que você é um lixo, que é inferior a todos, que não presta pra nada. Assim você e todos vão se sentir, todos serão lentos e burros, e na individualidade, todos acharam que tem um problema único. Serão todos deuses leprosos! Serão todos tartaruguinhas do Mario, poeira. E tudo é culpa sua! Você que viajou tanto, vai falhar agora. Nunca ira me vencer. Seus pensamentos agora nem mais lhe pertencem. Veja como tudo está acabando! É a reconstrução! Ajoelhe-se! Acabou.”

Eu ajoelho em frente à mesa, largo a faca e penso “…deu”.

Entrando na fila para…

Mini-conto enviado por um alienígena de um império um pouco distante. Eu adorei, espero que vocês gostem.

Entrando na fila para.

Para pensar, sim, como todos os pensamentos são regulados pelos O&F-PM
(organizadores e filtradores de pensamentos do mundo). Após fazer
minha inscrição para fazer parte do grupo de pensadores desse mundo
tive que enfrentar a fila para que os O&FPM avaliassem e liberassem a
construção de um pensamento. E após horas de espera e de detalhar o
motivo para a criação desse pensamento, não obtive a liberação.

– É simples, só desejo pensar por 60 minutos sobre a necessidade de
haver uma instituição para controlar os pensamentos.

– Senhor, não nos leve a mal, esse pensamento está fora da sua
competência, tente cooperar conosco, só fazemos o bem, servimos essa
comunidade para manter a paz e a civilização conquistada após séculos
de greves, revoltas e desorganização civil.

– Não quero causar nenhuma revolta, nem greve, nem nada desse tipo,
guardarei para mim as informações coletadas.

– Se é para você por que faz questão disso? Não existe motivo nenhum
para alguém querer pensar só para si mesmo.

– Mas eu quero. Não conheço mais ninguém nesse mundo para divulgar
minhas idéias, não sairei por aí gritando para estranhos meus
pensamentos.

– Claro que não, é proibido gritar! (risos dos O&FPM’s)

– Então… Vou poder pensar sobre isso?

– Não há porquê alguém pensar sem ambição de difundir o pensamento, é
individualista e sem fim educativo para a sociedade, seria perda de
tempo e de espaço para a mente do mundo. Seu pedido de pensamento foi
recusado.

FIM DA FILA.

Grande Apresentação.

Tranqüilidade observando aquela linda praia. As bordas estavam desbotadas, como quando você chega ao final da fase em algum vídeo-game. Enquanto isso dados não-voláteis corriam por entre os circuitos, e a informação era desfragmentada. Muita gente chama isso de sonhar, ou ilusão, mas pra mim é um cinema surreal para descansar um pouco. E foi bem na minha folga que ele veio. Bufando e cambaleando lá no começo da praia, eu já sabia que era ele. Desengonçado de forma bem especial, vinha fazendo uma trajetória que poderia ser descrita facilmente por uma equação de segundo grau. Era o desgraçado do meu empresário, e ainda pra melhorar, grita como um vocalista de metal melódico:

– Sua IA vagabunda, dormindo a essa hora!

– IA vagabunda é seu pai vendendo siri na estrada. Vai fala logo o que você quer.

– Tenho uma ótima notícia. Consegui que vocês toquem na cerimônia diplomática com os Gillespies.

– Owned!

A minha expressão de surpresa foi pura jogada, que eu não tenho a menor idéia de por que fiz. Talvez pra agradar meu querido empresário. A banda de qual eu sou membro e ele agencia, os Honk Tonk IA’s, faz muito sucesso, e não é nenhuma surpresa que a gente toque para os aliens. Está certo que eu acho estranho ele chamar uma banda só de Pistols pra representar a Terra, mas parecem que tem uma banda de caipiras que representa muito bem aquela imagem de humano de raiz.

– Vai ser foda. Todos os grandes diplomatas da Terra pra convencer aqueles os Grandes de que nós também somos Grandes. Nós, digo vocês tem papel fundamental nisso. Os Gillespies adoram música, principalmente aquelas que têm efeito radioativo. Mas eles também gostam muito da música da Terra. E se eles estalarem os dedos durante a apresentação de vocês, pronto, nosso humilde planeta será gravado na história do Universo como um dos grandes. É responsabilidade pra caralho! Então não façam feio!

 Depois daquele pesadelo com meu empresário, fui descobrir do que esses Aliens emos gostavam. Aposto que deve ser um Jazz bem frufru. Vou falar com o grupo ver se eles conseguiram descobrir do que os caras gostam…

– Então Jimmy, eu olhei o Lastfm dos três Gillespies que virão para a cerimônia. E a gente está bem ferrado. Um dos secretários é fã do Yes, Camel e outra banda que eu nunca ouvi na vida, chamada Veitozzy. Vai ver só pega na freqüência auditiva deles. O outro secretário gosta de Zeca Pagodinho, Clube da Ferrugem, que é uma banda só de IA que toca samba antigo. Ah ele é um fã nosso. E o Grande Produtor, que sabe Deus porque, só tem uma música cadastrada no perfil, que é Sabotage do Beastie Boys.

– Como a gente vai agradar eles, sendo que um gosta de progressivo, o outro de samba e o terceiro nós só sabemos que gosta de gente de bigode! E ainda tem fazer com que pareça com a nossa música!

– Simples! Vamos tocar músicas do Frank Zappa, com uma pegada meio samba, vai ficar parecido como nosso som…

– Espero que essa sua lógica funcione!

 Lá fomos nós tocar para os Gillespies. Milhares de pessoas, hologramas, Pistols, LZ2 além dos presidentes, ditadores, e embaixadores dos mais variados países estavam lá.

Vai começar a contagem pessoal:

– 1,2,3,4…

 

Esse pequeno e ruim conto é para apresentar meu Blog. Não vai ser uma coisa revolucionária, que vai mudar por completo a vida de quem ler. Na verdade eu quero mesmo é só juntar (ou tentar juntar) coisas que parecem bem diferentes, mas que a meu ver (e também na visão de muitas outras pessoas) não é tão distante. Eu quero tentar encontrar  essas relações ilusoriamente distantes, e também, é claro, inventar novos cruzamentos de informação.

Sejam muito bem-vindos ao meu blog. Espero que gostem dos caminhos que eu construí (e construirei) e espero que vocês me ajudem com  opiniões e dicas.

Ah, o nome do blog é em homenagem a essa múscia do Bob Dylan:

Vamos gente! Dançando!


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