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Mickey Eye is watching you!

Todo mundo gosta de bad-guys, principalmente nos quadrinhos. Personagens como Marv (“Sin City”) ou mesmo o Justiceiro, com seus métodos violentos, atitudes casca- grossa e frases de efeito. Mas pelo visto Grant Morrison estava cansado desses personagens…
“Seaguy” conta a história do personagem de mesmo nome da HQ, que vive num mundo utópico, em que não existem mais perigos. Todos vivem teoricamente felizes, sem crimes, assaltantes ou vilões para perturbar a paz. Quase todos os Super-Heróis morreram em combate com o que seria o mau supremo, o Anti-papai. Os que restaram se aposentaram e vivem de memórias do passado.
Nesse ambiente Seaguy vive de jogar xadrez com a morte (uma clara citação ao filme “Sétimo Selo”), e assistir o programa do suspeito Mickey Eye. E para impressionar uma mulher barbada, uma guerreira que busca aventureiros, Seaguy parte em busca de alguma aventura que talvez ainda exista nesse mundo. E ele encontra.
Tijolos com hieróglifos começam a cair da lua, e isso parece a Seaguy e seu parceiro (um peixe voador e fumante de charutos) a oportunidade perfeita para entrar em uma aventura, e conseqüentemente impressionar a mulher barbada. Mas essa suposta queda de pedras lunares arrasta diversos perigos consigo…
E isso é um das melhores coisas desse quadrinho. Morrison encadeia as ações dos personagens e as ações sobre os personagens de um modo totalmente inovador. Muitos falam que algo surrealista. Mas eu discordo. Assim como “Patrulha do Destino”, Morrison quer nos trazer uma espécie de estranheza romântica, mostrando que o mundo não é como a gente imagina e vê, mas ele não mostra isso com uma porrada na sua cara (como é o caso de Morpheus contado para Neo que ele é só uma pilha), mas sim com uma história muito bonita e poética. Além disso, o ritmo da história é muito rápido, as situações acontecem em grande velocidade. Parece até que a história foi “condensada”.
E Seaguy é um personagem a parte no mundo dos quadrinhos. Ele não tem poder nenhum, não conhece muito bem os oficio de ser um super-herói, e é um pouco ingênuo. Mas ao mesmo tempo ele é um romântico, carismático, simpático e muito inteligente.
A amizade dele com Chubby Da Chonna (o peixe voador que eu falei) é outra jóia rara que eu vi nesse quadrinho. Duplas aparecem em HQs e na literatura desde o tempo do guaraná com rolha. Batman e Robin, super-gêmeos (tá essa foi tosca), Sherlock Holmes e Watson, Dom Quixote e Sancho Pança. Mas a que chega mais perto do relacionamento entre os dois é o de Tintin e Milu. Porém nem essa se aproxima tanto. O mergulhador e seu amigo peixe têm realmente uma amizade, um companheirismo, como se fossem amigos de infância, não só uma coisa de parceria, ou mesmo uma relação de dono-pet.
E os temas clássicos de outras obras de Morrison aparecem mais uma vez. Misticismo, grupos de conspirações políticas, domínio global por organizações gananciosas, paranóia.
Tudo colocado de um modo muito interessante e com a ajuda dos desenhos sensacionais de Cameron Stewart. As ilustrações limpas e “inocentes” de Stewart casam perfeitamente com a estética do quadrinho, mais até, é parte importante desse tema da falsa realidade em que vive o Seaguy, e que talvez todos nós vivemos.
“Seaguy” tem apenas 3 edições, mas Morrison já lançou uma continuação (que eu não li). É uma história emocionante e singela, ao mesmo tempo em que cutuca em diversas feridas da sociedade, e tem um dos finais mais amargos que eu vi recentemente (quem viu Easy Rider sabe mais ou menos do que eu falo).
Faça um favor a si mesmo e leia essa grande obra! Nota 10/10.


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